Sunday 1 December 2013

Editorial

Business Man, by Sebastian Govino

“É preciso encontrar a palavra mágica
para se elevar o canto do mundo”

~ Joseph Freiherr von Eichenddorf (1778-1857).

“habent sua fata verba”
~ in Pequeno Livro dos Rancores

TUDA Dezembro ~ Dezembro TUDA! Gostaria que fosse de luto este natal, esta TUDA:

Luto pela morte da miséria,
     Luto pela morte da maldade,
          Luto pela morte da ganância,
               Luto pela morte da ignorância.

Se mortos estivessem estes quatro cavaleiros do apocalypse humano, teríamos mais motivos para comemorar; fosse os presentes de Papai Noel, debaixo da árvore ou sobre a lareira, fosse o nascimento de Jesus, fosse o fim da opressão religiosa, ou outro motivo qualquer, nem importaria tanto, que com corpo e mente na calma e na tranquilidade iríamos longe, ah iríamos, e teríamos um natal de justa medida, e assim o novo-ano nos seria mais leve...

Mas se os quatro do apocalypse ainda vagam pela Terra, certamente buscam algo... talvez estejam à caça dos Grandes Tesouros da humanidade, na esperança de eliminá-los. Tempo, Bom-Senso, Sabedoria, Compaixão e, talvez o mais valioso de todos, e consequentemente o mais difícil de se obter, Humildade.

Incrível o poder inverso que a humildade exerce nas pessoas: quanto mais humilde alguém se mostra, se apresenta, mais falta humildade no outro, próximo ou distante. É como se a humildade, não humilde ela mesma, não suportasse a convivência com outra de sua própria espécie, e travasse então uma batalha de nervos, onde apenas uma vence, botando a outra pra correr!

E se você for o azarado da humildade derrotada, só lhe resta rezar, camaradinha, rezar para que um resquício qualquer de bom-senso o desperte da arrogância alucinada na qual você provavelmente estará atolado, a discursar absurdos cheios de propriedades... e com um pouco de sorte, você se retrairá a tempo de salvar um pouco de dignidade.

E se de algo me falto, nesta minha busca da humildade, também disso me alimento, já que a pele é a melhor escola - tudo que se sente na pele sente-se mais; tudo o que se aprende pela pele nos marca mais.

Sem saber se direito se é humilde ou a própria encarnação da humildade, vem esta TUDA, com ou sem LUTO, cheia de sí mesma, que só ela se bastava: claro, graças aos leitores e aos colaboradores, dentre eles os já conhecidos pyndahýbicos, uns já partidos, outros ainda não (toc, toc, toc), destemundo & d'outraléns, mais os colaboradores usuais e os esporádicos também. TUDA entudece-se, e agradece a todos!

É isso aí companheiros, na velha e suja LabUTA do dia a dia, que não bastasse ser suja, por vezes é podre, e mesmo onde se espera compaixão encontra-se a oportunidade; onde se espera a solidariedade se encontra o egoísmo; onde se espera a generosidade se encontra a avareza; mostrar-se bom não nos faz bons, é preciso mais... muito mais, e os donos do mundo não vão colocar a mão em seus bolsos empachado de dinheiros, isso não, pois assim como a Língua e a Consciência, ambas todo o bem e todo o mal do homem, o Capital é todo o bem e todo o mal da humanidade, e exige muito bom-senso, sabedoria, e compaixão!

TUDA Dezembro no prelo
"Há 10 tipos de pessoas no mundo:
as que entendem binário e as que não entendem."
(Frank McCown)

Asyno Eduardo Miranda

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o (auto-proclamado) editor
deste porto semisseguro da jlha do Eire
oje, vigzº terº dia do dezº segº mez
d este Anno Domini de MMXIII

Dívida Interna

Editor
Eduardo Miranda

Capa
José Geraldo de Barros Martins

Blogagem
Eduardo Miranda

Revisão
dos autores

Participam desta edição:
Aristides Klafke, Arnaldo Xavier, Cândido Portinari, Carlos Drummond de Andrade, Cesar Cruz, Dorival Fontana, Ed Ruscha, Eduardo Miranda, Elizabeth Magill, Gerard Boersma, Hamilton Faria, Henry Vaughan, John Leech, José Carlos de Souza, José Geraldo de Barros Martins, José Miranda Filho, Marina Alexiou, Mark Chadwick, Nguyen Thai Tuan, Plínio de Aguiar, Roniwalter Jatobá, Sebastian Govino, Shimoda Haruhiko, Tim Burton e Vincent Van Gogh.

E-mail
tuda.papel.eletronico@gmail.com

Poesia - Arnaldo Xavier

Cave Paintings of Baja California
subsenhor          Sílaba por sílaba salamandra       lâmina sibila concriz
concriz concriz          pássaro rbaro orlando silva da natureza        a
escorrer pela rocha          Tão lágrima de pedra

Poesia - Aristides Klafke

Another moon 04, Shimoda Haruhiko
39

corto as unhas das mãos
haicai ou não ((((((((((
luas crescentes no chão

[ in Quebrada, inédito ]

Poesia - Plínio de Aguiar

Street scene man window shopping for art ~ Gerard Boersma

Requiem Shopping Time

A cidade sai do coldre
a cidade subindo escada
a cidade infiltrando-se em camas.

No andar de cima, em chamas
mulheres aves grávidas
discutem sobre a morte.

Nas ruas lixeiros limpam
nossas consciências.

Acabou tudo, penso
o poema também, penso
acabou:
operários e otários amanhecendo.

[in Lira Rústica, Booklink, 2005]

Poesia - Dorival Fontana

Ed Ruscha ~ Man Walking Away From It All, 1985

Natal

Dezembro são lembranças.
Os mesmos votos renovados.
Promessas não cumpridas.
Procuramos o milagre
nos presentes sob a árvore;
um conforto, um carinho,
um milésimo de felicidade.

A chuva cintila a rua.
Sob os postes luzes trêmulas.
Pela noite sombras tortas.
Na casa todos dormem.

Os amigos esquecidos,
os entes que se foram...
tudo é tempo passado...
parece nunca ter existido.
Caminho em direção a um novo ano,
que simplesmente passa...
como tantos outros.

Poesia - Hamilton Faria

Mark Chadwick

Azul Espigas e Maçãs

Feminino
qual u`a maça
repouso

Minha ó maçã
anuncies ao mundo
tua ternura
ante minha boca

Sóbrialúcidamaçã
desces redonda pelo meu desejo
e o meu silêncio te ama

E tu espiga minha
olhar antiquíssimo das eras
me espias amarela

É uma dádiva te amar

Hoje eu me vesti de azul

(in Encântaros, Escrituras Editora, São Paulo, 1996)